Às vésperas de um casamento de amigos, já estou preparado: velho terno desbotado ou coisa assim, mais botões que um dia das mães e tome gravata – esse flagelo colorido. E dá-lhe fotografia.
Existe um contra-senso na tomada de fotografias. No tempo do daguerreótipo, tudo bem: uma tomada podia levar até trinta minutos pra impregnar uma placa de vidro mijada. Mas a fotografia só virou fotografia quando conseguiu nos mostrar uma espécie de microscópio de tempo. Disparos de milésimos de segundo mostravam momentos decisivos dentro do mundo que nossa visão contínua via mas não enxergava.
Não sei se tem a ver com a ditadura da beleza ou da alegria, mas as fotos que vão roubar mais alguns pedaços da minha alma neste sábado estão coreografadas de antemão: as cabecinhas inclinadinhas direcionadas a um ponto de fuga engessado, fingindo a alegria que deveras sentimos, tudo pra acabar numa pilha de bits, tão igual a tudo, que escorrega da nossa memória pra uma memória magnética da qual ninguém lembra.
Bora ignorar o passarinho, nunca mais falar xis, vamos ver o que o milésimo esconde de nós, vamos velar e revelar nossas próprias personas. Mil grãos de arroz suspensos, cada um mirando pra onde queria, fazendo sua própria foto na memória, enquanto o profissional clica tudo sem juízo, só beleza.