Mais uma do departamento de niilismo.
A cada dois anos, a ladainha é a mesma. Se entre os candidatos até que há um revezamento entre dinossauros e noviços, a parte do eleitorado que opina por aí é muito menos mutável.
O que justificaria uma consistência ideológica – vá lá, “sou socialista”, “sou trabalhista”, “sou social-democrata”, “sou liberal” – dentro do espectro político brasileiro, esquece. Partidos são mobiliário de aluguel, um pregão em que os valores são o tempo de TV e o peso relativo de cada voto na legenda-quimera. Nada de novo por aí.
Um cara de princípios que ultrapassem o hoje-em-dia não vota em ninguém. Não poderia. Mas a danada é a arte do possível, não é? Do outro lado da tabela, quem diz que político é tudo igual tem a obrigação de anular o voto, mas nunca. A gente conhece a trama, fazer figa pra todo homem público, à torto e à direito, é um salvo-conduto imaginário contra a otarização que sofremos e sofreremos no próximo exercício.
Escolher por eliminação – estratégia tão jóia quanto as outras – pode mascarar dramas de consciência, mas não funciona como redutor de responsabilidade.
Escolher um perdedor certo pode valer um título de fera romântica do ano no botequim, só que, no mais das vezes, é simplesmente um voto afetado e covarde. Covardia que apareceria se o referido candidato corresse algum risco de vencer a peleja.
Há que escolher, e queremos pensar que votamos com consciência. Mas eu me pergunto, dado que vou votar enfim em um deles:
Que aberração sanguinária, desumana e estupefaciente essa pessoa ou organização teria que cometer pra que eu retirasse meu voto dela?